Playlist Novembro
O ano tem 12 meses, mas playlists de lançamentos foram só 11. Infelizmente, encerramos aqui essa jornada para entrar em merecidas férias escolares. Antes disso, queríamos contabilizar a maratona dizendo que nossas queridas playlists apresentaram 115 músicas lançadas em 2015, algumas boas, outras nem tanto. O que importou foi o amor pelo mundo bárbaro, Brasil incluso, a frequência, a composição de um quadro de referência dos lançamentos e o controle da posse de bola. Apareceram nas playlists 55 países diferentes, com destaque para a Itália, com 9 faixas. Cometemos alguns delizes (“é assim o nosso jeito de viver”), vez ou outra cedemos ao inglês, e uma vez os EUA foram citados, mas sempre por uma causa justa, nada que fira nosso código de posturas. Terminamos felizes como começamos e ouvindo um pouco de tudo.


Os títulos estão organizados assim:
Quem / Onde / Música / Disco
1 Abba Gargando / Mali / Amidinin / Abba Gargando
Chris Kirkley é um descobridor de música bárbara, daqueles que a gente queria ser. Ele sai por aí pelo mundo em busca das coisas mais obscuras, registrando artistas maravilhosos que ninguém descobriu ainda. Seu blog, onde ele contava essas descobertas, virou um selo, a Sahel Sounds, que publicou em setembro esse disco. Abba Gargando é um malinense que Chris descobriu na Mauritânia. O disco foi gravado em telefones celulares, da maneira como a música do Abba circula por lá. Guitarra malinense lo-fi, uma pérola.


2 Ave Negra / Costa Rica / Ave Negra / Ave Negra
Na faixa título desse disco lançado em maio, a banda Ave Negra canta “Ave Negra llegó y está aquí para explotar cabezas”. A estratégia de fazer referência a si próprio é um recurso que muito apreciamos desde “os caras do Charlie Brown invadiram a cidade”. Disco simples, barulhento, rápido e interessante desse trio costa-riquenho.


3 Drvored / Croácia / Limena Glazbo / Arhelino
Banda de Zagreb composta por 9 membros e que toca uma mistura bem azeitada de música dos bálcãs, rock, ska, e coisas afins. Não sabemos mais coisas sobre eles, o que é uma pena, mas ficaremos de olho de agora em diante.


4 Gangbé Brass Band / Benin / Miziki / Go Slow to Lagos
Precisávamos de uma banda maior que o Drvored e encontramos no nosso acervo um exemplar de quem gostamos muito, com disco novo. Do Benin, a Gangbé Brass Band lançou em 2015 o seu quinto álbum, mantendo a tradição de misturar afrobeat e jazz, metais e percussão.


5 Claver Gold / Itália / Nazario / Melograno
Um rapper italiano que assina seu disco em parceria com o produtor Kintsugi. Uma homenagem tardia a Ronaldo Fenômeno. Deixaríamos passar, mas ele cita Belo Horizonte, Flamengo, Cruzeiro, o bairro Bento Ribeiro no Rio, Zico, Dunga, Romário e Bebeto, enfim, essas coisas que a gente tanto gosta. Não encontramos a letra por aí, então não entendemos bem o motivo de citar o Vasco da Gama. Não entendemos também se ele diz “Vasco da Gama Mineiro”, ou se tem uma vírgula e ele está fazendo referência ao Atlético. Iremos investigar.


6 Foyone / Espanha / Negro Luto / La Jaula de Oro
Outro rapper, agora de Málaga na Espanha, que manda no meio da rima uma frase futebolística, que é passaporte garantido para as playlists da nossas vidas: “me siento Maradona levantando la Copa”. A faixa “Negro Luto” pode ser ouvida também em uma versão a capella aqui: https://soundcloud.com/zombierock/acapella-negro-luto/s-F8Zow.


7 Bareto / Peru / El Loco / Impredecible
A banda Bareto deixou o underground peruano e passou ao mainstream da cena musical de seu país quando abraçou a herança de Juaneco Y Su Combo, ícone da chicha, aquela cumbia psicodélica que tanto gostamos. Nessa faixa eles são acompanhados por Susana Baca, outra lenda, que há pouco deixou de ser a ministra da cultura do Peru.


8 Carla Morrison / México / Un Beso / Amor Supremo
A mexicana Carla Morrison lançou seu segundo disco sem muito alarde, mas já está escalada para os grandes festivais do mundo latino, amparada pelos prêmios que ganhou com seu primeiro disco “Déjenme Llorar”. Os mexicanos costumam mesmo andar sempre juntos, o que significa que se você não a conhecia de seus próprios discos, pode tê-la ouvido por aí acompanhando a Natalia Lafourcade, a Julieta Venegas, o León Larregui, e alguns outros.


9 Zarabatana / Portugal / Sande Macaco / Fogo na Carne
Primeiro disco desse trio de free jazz lisboeta. O importante jornalista Rui Eduardo Paes disse palavras muito bonitas a respeito: “Este jazz com atitude punk é novamente uma acção para espantar os espíritos ou para os convocar. Uma reconciliação com o húmus e as estrelas, colocando-nos, a nós ouvintes, no eixo das forças que sobem e descem do céu e da terra. O que só quer dizer uma coisa: é importante.”


10 Noah / Japão / Fehér / Sivutie
Outro disco de estreia, dessa vez de uma cantora japonesa bastante interessante que deu um título em finlandês para o seu disco. “Sivutie” é algo como “via lateral”, uma paisagem idílica que amarra conceitualmente as faixas do disco, que ficam rondando um minimalismo eletrônico, cheio de camadas e vocais etéreos. Belo disco.