Nas sociedades pré-coloniais da África Ocidental, os “griot” eram sábios que detinham as histórias orais passadas de geração para geração através da música. Doudou N’Diaye Rose é um deles. Considerado um dos maiores percussionistas da África, o senegalês, nascido na década de 20, fez bonito também fora do país.
Chegou, inclusive, a receber de parte da crítica especializada em música o título de “Jimi Hendrix da percussão” e um outro, um pouco mais romântico: “Poeta dos ritmos do Sabar”. A paixão pelo Sabar, tambor africano, começou aos nove anos e, embora a família não gostasse da idéia, o garoto matava aulas para ver os percussionistas da vizinhança tocarem. Encontrou um mestre, El Hadj Mademba Seck, um dos melhores percussionistas da cidade de Dakar, capital do Senegal, com quem estudou durante anos, enquanto se dedicava à profissão de encanador (hein?!).

Em 1960, com a independência de seu país, Rose se tornou uma figura cultural proeminente, fez contribuições para a composição do novo hino senegalês adotado, assim como as vinhetas para a única emissora nacional de TV. A partir daí o homem caiu no mundo e fez carreira na França, América do Norte e Japão. Alguns figurões tiveram a honra de tocar com Doudou. Miles Davis, Rolling Stones, Peter Gabriel, Dizzy Gillespie e Kodo foram alguns deles.
O grupo Drummers of West Africa, fundado por ele, é constituído apenas por integrantes da família. Coisa pouca. Seus quarenta e dois filhos e suas quatro esposas, que compõe junto com as outras mulheres da família o grupo Les Rosettes, algo bem incomum para o mundo africano dos tambores.
No auge dos seus 79 aninhos, Doudou N´Diaye Rose coordena sua prole com vigor, toca loucamente, pula no palco como se tivesse um quarto da idade que tem e coloca todo mundo para dançar. Inclusive eu e algumas boas centenas de belo-horizontinos que estavam na Praça da Estação, no último dia 24, assistindo aos espetáculos do Festival de Arte Negra.