“Com este nome, deve ser banda de punk rock” – pensei. Quando ouvi as primeiras canções, me dei conta de que a idéia não era perturbar no sentido de aborrecer, de encher o saco. Pesquisando um pouco mais, entendi que a perturbazione dos italianos é mais utilizada no sentido de fenômenos físicos, como alguma perturbação atmosférica ou as ondas que se formam quando a gente atira pedrinhas em um lago.
A Perturbazione, assim como a maioria das bandas italianas, já fazia parte do meu repertório muito antes de ir para o repertório do Invasões Bárbaras. Entre as poucas canções que tinha, um cover do Belle & Sebastian era a que mais me chamava atenção. Eu ainda não sabia, obviamente, que era uma versão, e depois de tê-lo descoberto foi que entendi o que havia de mais além naquela “Portami via di qua, sto male: vida”. Perturbazione é, sobretudo, vida. Não me admira terem feito uma canção mais viva do que os Belle & Sebastian conseguiriam.
Perturbazione é experiência, é introspecção, é vicissitude. Uma tradução apropriada seria inquietação. Uma tristeza que não é necessariamente melancolia, mas a simples revelação de que o que são as nossas existências depende de nós mesmos. O sentido da vida é tão mais fácil de ser compreendido quanto menos tentarmos complicá-la, quanto mais, vivendo com leveza.
Perturbazione é rock, boa parte das vezes. Ultimamente também tem sido bossa. Daquelas que não fariam feio na abertura de uma novela de Manoel Carlos regravada na Itália. Quero crer que a semelhança com Cocoon seja coincidência.
Perturbazione é independente porque viver depende de cada um de nós e não é algo que se pode delegar. É interdependente de suas muitas influências, porque não são uns poucos acordes ou uns poucos versos que trazem as respostas de tudo.