Se à primeira vista a mexicana Julieta Venegas parece apenas mais uma cantora pop de músicas melosas, faz bem abandonar completamente esta primeira impressão. Dona de uma vasta formação musical, que inclui piano, acordeom, violoncelo e participação em banda de reggae, Julieta Venegas não só tem uma voz cativante como também é uma profílica compositora, que costuma assinar a quase totalidade das faixas dos seus álbuns.
O estilo predominante da musicista é o pop-rock, mas sempre há espaço para inserção de elementos regionais e – por que não? – globais. Julieta é sucesso no mundo de fala hispânica, fez tributos a artistas consagrados da música popular de seu país e de outros de colonização espanhola e, inclusive, já gravou com o brasileiro Lenine a canção bilíngüe “Miedo” no CD Acústico do nosso cantor. A beleza brejeira e descompromissada, aliada à presença de voz, fazem da cantora um conjunto apaixonante.
Nada de letras fáceis no repertório de Julieta, que nasceu em Long Beach, Califórnia, EUA, mas se criou inteiramente em Tijuana, Baja California, México. Os versos das suas canções são cuidadosamente trabalhados para fazerem parecer coisa banal os complicados problemas da vida afetiva:
“No voy a llorar y decir que no merezco esto, porque es probable que lo merezco, pero no lo quiero, por eso me voy”
…assim como para darem dimensão cotidiana ao mais transcendental dos amores.
“Yo te quiero con limón y sal, yo te quiero tal y cómo estás, no hace falta cambiarte nada”
Às vezes o seu trabalho tem até um certo tom indie. O mais importante: o drama, a lamúria, a dor-de-cotovelo que nós brasileiros costumamos associar às canções da América Hispânica são apenas aparentes na música de Julieta Venegas. A mensagem que tansborda do seu trabalho é a de que o amor e a vida devem ser mantidos simples. Pela sua atitude e pela sua completude musical, Mme. Venegas se traduz numa artista muito mais autêntica do que qualquer sonido lasser.
Texto publicado originalmente no dia 13 de abril de 2007. Resgatado para integrar nossa Semana da Mulher.
Tiago Capixaba
»apoiado, baiano