Direto de Santiago – Chile
A cultura brasileira, vasta como é, produz vários artistas que são impossíveis de se ignorar. Seja por seu grande talento ou por sua postura pouco comum, não há como não saber “quem é o cantor”. Um dos exemplos dessa safra de músicos é o cigano mais amado do Brasil: Sidney Magal.
Durante minha viagem pela América do Sul, quando estava em Buenos Aires, ao cantar uma das músicas do Amante Latino, fui contestado com a seguinte informação: não só a música não era dele, como a Argentina também também tinha seu cigano, Sandro.
Sandro, como Magal, é visto pelos argentinos como um cantor brega, mas o início de sua carreira é bem diferente. Em 1960, Sandro foi o primeiro cantor a gravar uma música de rock em espanhol na Argentina. Durante a explosão do ritmo, na década de 60, Sandro y Los de Fuego se dedicaram a fazer covers de músicas conhecidas com letras em espanhol. Daí surgem “Boleto para Pasear” (Beatles – “Ticket to ride”), “La casa del sol nasciente” (The animals – “House of the rising sun”) e “Hablando de tí” (Chuck Berry – I’m talking about you), para mencionar algumas. A fase rockeira de Sandro durou até 1967, quando lançou o álbum Beat Latino.
A fase sexual
No fim da década de 60, Sandro troca a jaqueta de couro pelo paletó e gravata e começa a fusionar rock e novos ritmos latinos. Os temas se voltam para a sexualidade. Ele decide entrar em uma cruzada contra a virgindade e a falta de sexo antes do casamento. As jovens que iam aos shows de Sandro diziam que ele era o homem mais sensual da face da terra e tentavam adquirir seus favores lançando calcinhas no palco.
Nos anos seguintes, Sandro continuou com seu sucesso. Em 1970, atua no filme “Gitano” e por isso ganha o famoso apelido. O cantor foi o primeiro latino americano a se apresentar no Madison Square Garden e foi protagonista da primeira transmissão de show via satélite na história. Lançou 33 álbuns, um deles em português para o mercado brasileiro.
Homenagens
Com o estabelecimento do Rock Nacional Argentino, as músicas de Sandro começaram a ser revaloradas. Los Fabulosos Cadillacs, Divididos, Ataque 77, Leon Gieco, são alguns artistas que fizeram versões dos temas do Cigano. Se estendemos o espectro para o resto da América Latina, surgem nomes como Molotov e Atercipelados, figuras conhecidas aqui no Invasões. Outra singela homenagem é feita pelas “Nenas de Sandro”, as adolescentes que jogavam calcinhas na década de 70, agora são distintas senhoras que peregrinam até a casa do cantor, em Banfield, para estar próximas do ídolo.
Nas últimas semanas, Sandro esteve nos noticiários argentinos por estar precisando de um duplo transplante. Ele só precisava de um coração e dois pulmões. Havia uma grande campanha na televisão para que se achassem os órgãos para o cantor. No dia 20 de novembro de 2009, conseguiram um doador compatível, um jovem de 22 anos de idade. A operação correu bem e os médicos estão dando mais 10 anos de vida para o cigano.
Para finalizar, deixo aqui uma versão de “Tengo”, música que influenciou o cigano brasileiro Sidney Magal.