No último dia 04, o público de Belo Horizonte foi agraciado com mais um show da dupla de rock e música eletrônica mais famosa da Bélgica, o Vive La Fête. Mesma casa de shows, mesmos dias e horários, mas com um público diferente daquele de 2008. À época, o show foi restrito apenas a convidados e à imprensa. Desta vez, a bilheteria funcionou normalmente, o que para nós, do Invasões Bárbaras, serviu para confirmar a popularidade da banda, que já tem um número expressivo de fãs cativos.
A principal diferença entre os dois espetáculos ficou por conta do repertório. Em 2008, vivíamos a expectativa de ouvirmos as canções do recém-lançado Jour de Chance, que ainda considero o melhor CD da categoria. O JDC marcou a virada do som do Vive La Fête em direção ao rock. Se antes as guitarras eram coadjuvantes dos sintetizadores, com este álbum elas assumiram o papel principal. A estrutura das principais canções, como “Mais” e “Aventures Fictives”, deixou de lado a linearidade típica do electropop e passou a apostar em viradas, passagens e refrões fortes típicas do padrão comum da canção popular, mas acompanhadas de arranjos vibrantes de rock.
Tudo isso para dizer que não foi daquela vez que curtimos ao vivo as músicas que mais nos agradaram no Jour de Chance. O show de 2008 pouco explorou este CD, indo mais com o repertório consolidado do electropop de músicas como “Touch Pas” e a mais conhecida de todas, “Nuit Blanche”. Não é que tenha havido decepção; de forma alguma. O ineditismo de acompanhar pela primeira vez ao vivo uma banda que só ouvíamos nas discussões e programações do Invasões tornou o momento repleto de lembranças.
Agora em 2010, nós já estávamos descolados. A turnê pelo Brasil marcou, além dos 10 anos do primeiro CD da banda, o lançamento do álbum Disque d’Or, este ainda mais rock do que o antecessor Jour de Chance. E se por um lado não vivíamos mais a surpresa de um primeiro show, por outro foi muito gratificante podermos ouvir tanto as músicas do Jour de Chance, que não tínhamos ouvido em 2008, quanto as mais novas do Disque d’Or.
As músicas do JDC confirmaram o que já prevíamos: sucesso absoluto tanto nas pistas quanto no palco. Rock da melhor qualidade com batidas eletrônicas. Da forma que foi executada no palco, com a energia toda da banda e a presença de palco assustadoramente feliz da Els Pynoo, esta combinação tornou a música do Vive La Fête tão contemporânea que deixa as referências oitentistas da banda parecerem apenas um verniz.
Ao longo do show deu para confirmar que a presença dos fãs não foi apenas uma suposição. Eles e elas estiveram lá, pulando, vibrando e arriscando o seu francês ao cantarem as letras das canções mais conhecidas, como nos melhores show de rock. Sim, agora o VLF é realmente uma banda de rock que usa arranjos eletrônicos. O pêndulo oscilou de vez para o lado oposto. O importante é que a banda de rock, não mais o duo de electrop Vive La Fête, continua fazendo boa música, e pelo visto vai continuar nos surpreendendo. Cantar em francês faz parte do show, mas pelo bem da diversidade e do rock, dá até vontade que eles se arrisquem fazendo umas letras também no seu idioma natal, o holandês flamenco.