Alguns dos músicos que são apresentados aqui refletem muito bem o espírito do Invasões Bárbaras. Para mim, que vejo de fora, esse espírito diz de um interesse em fazer e gostar de música além das barreiras dos idiomas, estereótipos e rótulos e, ao mesmo tempo, com bastante irreverência. Männer am Meer é uma dessas bandas, especialmente no que diz do humor e diversão.
Se idioma fosse determinante para o sucesso de uma banda, MaM estaria fadado a ser entendido por menos de 10 milhões de pessoas. Eles escolheram sua língua materna, Bärndütsch (uma variante do alemânico, falado principalmente na Suíça, Áustria e no sul da Alemanha), para se expressarem.
Até mesmo para alguns suíços, essa escolha se apresenta pouco interessante, já que limita bastante o público para o qual se fala. Mas, segundo os integrantes do grupo, aí está uma questão de liberdade de expressão. Como se expressar completamente em uma língua que é estrangeira, que não se fala naturalmente?
Naquele país, os diversos dialetos do alemão, do italiano e o romanche (um idioma derivado do latim e falado por 60 mil pessoas) aparecem como as línguas faladas em casa, com a família e os amigos, enquanto o alemão ou o italiano “oficiais” são os idiomas das relações de trabalho, dos negócios.
Para o Männer, a língua não pode ser uma barreira para a composição de sua música e nem deve restringir o entendimento delas. Principalmente, porque, com dois vocalistas nervosos, eles parecem ter muito a dizer.
Os músicos do MaM também não se deixam prender firmemente pelas barreiras dos estereótipos e rótulos musicais. Eles fazem um som com pitadas de ska latino nos instrumentos, e nos vocais mostram a grande influência do rap em sua música. Ou mesmo, fazem baladas românticas brincando com a diversidade cultural trazida pelos inúmeros imigrantes em seu país. Ou ainda, fazem um pop-rock com ritmo forte e letras que ironizam os comportamentos “normais” de hoje.

Daí é que se vê que eles também são irreverentes. E como! O próprio nome da banda remete ao sonho de a Suíça “voltar” a ter um mar que existia ali no período Cretáceo, há mais de 65 milhões de anos atrás. O grupo também é conhecido por suas performances engraçadas no palco.
Eles usam diferentes figurinos, roupas chamativas e interpretam suas músicas, chegando a lutar boxe no meio do show. Para a divulgação de seu segundo álbum, Mit dem Rücken zum Strand (2008) eles distribuíram spots de rádio em que os vocalistas brincam com “Dmitri”, um agente publicitário da banda para o Oriente.
Em 2007, a banda anunciou que iria se lançar como partido político para as eleições federais suíças com um single que criticava a política do país. A movimentação em torno das eleições foi apenas uma brincadeira para motivar jovens a votar. Eles anunciaram a “derrota” nas eleições com um “Talvez tenha sido melhor assim. Pelo menos ficamos bonitos vestidos de políticos”.
Vou im Bild, de 2006, marcou o início da carreira da banda de QC e Ramon. O álbum não foi planejado para ser comercializado mas acabou por tornar a banda bastante conhecida na Suíça.

Männer am Meer lançou um novo álbum em 2008 confirmando a sua intenção de não se deixar prender e definir facilmente. Mit dem Rück zur Strand foi anunciado pelo MaM como o som perfeito para montar uma atmosfera de férias e veio para confirmar que os músicos ainda nadam contra a corrente.
Curiosamente, a banda gosta de considerar o lado visual da experiência musical, para ter todo o Männer am Meer, é preciso visitar o website, ir aos shows, ou mesmo, ver as capas dos CDs.
Bem, dado ao pouco material que eles disponibilizam em seu site (leia-se, quase não há músicas completas), o melhor mesmo é esperar pelo dia em que eles resolvam fazer um show no Brasil para conhecer a banda de verdade. Quem sabe podemos mobilizá-los com o fato de que também sonhamos com um mar para Minas Gerais?