Uma história que pode acontecer com qualquer um. O casal conversa dentro do carro:
– Olha amor, lembra daquela boate?
– Claro, que me lembro. Foi onde nos conhecemos, e onde tudo começou.
– Ai, que saudade daquele tempo. Eu lembro a roupa que eu estava usando.
– Eu me lembro também.
– Jura? Lembra da sua roupa?
– Da minha não, mas lembro da sua. Você estava de micro-short e uma blusa preta de alcinha. Usava aquele seu tênis de solado baixo e seu cabelo era bem mais curto.
– E eu me lembro da sua, sim. Você estava com aquela camisa verde horrorosa…
– Ei, eu adoro aquela camisa! E você sempre disse que ela era legal!
– Ela FOI legal, amor. Há 4 anos. Hoje ela está toda surrada e não tem nada a ver você continuar saindo com ela… e eu estava alegrinha, já tinha bebido um cuba…
– Na hora que eu te encontrei você estava com uma caipivodka.
– Isso. Nossa, eu tomei caipivodka…
– … e dançava loucamente. Eu lembro de você fazer aquele passinho louco…
– Pode parar!
– Ah, nem vem! Tava dançando e fazendo aquele passinho. Quase caiu no emo magrelo que tava dançando do teu lado.
– Ai, que vergonha. Aliás, emo tava tão na moda aquela época…
– E engraçado que não tinha quase nenhum naquela festa, só esse que você quase derrubou. Aliás, tinham pessoas tão diferentes naquela noite… acho que nunca vi um público tão heterogêneo naquele lugar.
– Agora que você falou… sabe que eu até tive essa impressão também? O que foi bom, né? Não fosse assim, a gente nem tinha se esbarrado…
– Eu lembro até hoje a cantada que eu usei…
– Ah, e tinha como não lembrar? Eu rio só de pensar naquilo. De onde você tirou aquela frase manjada? Pior: de onde você tirou que ia conseguir alguma coisa naquela noite usando aquela cantada barata?
– Você riu, não riu?
– Não mude de assunto. Se eu estivesse normal, acho que tinha saído correndo…
– Que bom que não saiu, né?
– Hihihi…
– Hehe…
– Ai ai… a música que tocou na hora que a gente se beijou… lembra?
– …
– Lembra, amor?
– Lembro. Quer dizer, eu lembro do ritmo, mas não sei ao certo qual era. Era uma do Franz…
– Tá louco? Franz tocou hora que você chegou em mim e não rolou mais.
– Ah, é… ah, mas a música tinha uma levada mais… mais…
– Voce está tentando me enrolar…
– Não, a música era uma coisa mais forte, um som mais encorpado. Era electro, não era?
– Nada a ver, amor! Era quase hip hop.
– Hip Hop? Não, eu podia jurar que era algo do Franz, ou do Arctic Monkeys, ou… sei lá.
– Era hip hop. E tinha aquele refrão legal…
– É mesmo.
– Não precisa fingir que se lembrou…
– Mas eu lembro. Claro que não era Franz…
– Qual o nome daquela banda que canta em espanhol?
– Quê?
– Aquela que você gostava!
– Mas aquilo não era espanhol!
– É óbvio que era espanhol! Não era inglês!
– E desde quando inglês e espanhol são os…
– Ai, você entendeu! Era latino, tenho certeza!
– Mas não era espanhol, eu teria reconhecido. Devia ser algo africano…
– Ai, ai…
Silêncio.
– Escuta, e por acaso você se lembra o que era?
Moral da história: se você ouve o Invasões Bárbaras, isso não acontece com você.