Com a pontualidade que nos é peculiar (apenas 31 dias de atraso), finalmente trago a última parte da cobertura invasora no Vive Latino ’11. Mais uma vez, acompanhei do conforto da minha TV os shows do terceiro e último dia da 12ª edição do festival e compartilho aqui as minhas impressões.
Ao contrário dos 2 primeiros dias, que se concentrou em bandas de rock, a diversidade de estilos e gêneros musicais foi maior no domingo: além de rock, tivemos reggae, rap, pop, funk (o original, não a versão carioca).
Também houve uma presença maior de bandas do Império, como o Devotchka (conhecida pela trilha sonora do filme Pequena Miss Sunshine), The National (banda indie interessante, mas introspectiva demais para o clima do festival) e Omar Rodriguez Lopez Group (projeto do virtuoso guitarrista da banda The Mars Volta, que faz lembrar Jimi Hendrix).
Mas aqui o assunto é a música não cantada em inglês e, portanto, falaremos dos shows que se enquadram nessa categoria.

Los Coronas

A banda espanhola Los Coronas tem um estilo curioso: enquanto a maior parte das músicas que tocam são covers, essas músicas são reinventadas num estilo que mescla mariachis com surf music. O resultado é um som que parece saído de um filme do Tarantino. Inclusive, foi com um cover de “Misirlou”, música de Dick Dale que faz parte da trilha sonora de Pulp Fiction, que a banda encerrou sua apresentação. Nem o calor das 3 da tarde no Foro Sol diminuiu a animação do público que assistiu o ótimo show.

Fidel Nadal

Quem já teve a oportunidade de visitar a Argentina deve ter notado que raramente se veem pessoas de pele negra no país, já que a população descende quase por completo de europeus e indígenas. Imagine então a quebra de expectativa que é ver um cantor de reggae argentino negro, com um visual ao melhor estilo jamaicano. Cor da pele à parte, Fidel Nadal faz um reggae da melhor qualidade, às vezes incluindo um toque latino às suas músicas.

Toño Zuñiga y Alfa & Omega

O rap também encontrou seu espaço no último dia do Vive Latino ’11. Na tenda vermelha se apresentaram Toño Zuñiga y Alfa & Omega, cujo interesse do público vem do fato de Toño ser objeto de interesse do documentário “Presunto Culpable”, que mostra o trabalho de 2 advogados para retirar o rapper de trás das grades, condenado por um crime que não cometeu. Consequentemente, sua música fala justamente das arbitrariedades das autoridades. Só não consegui ver o bastante para poder ter uma opinião mais elaborada.

Los Daniels

Confesso que depois de tanto tempo nem lembrava mais o que essa banda tocava. Sinal de que não impressionou o suficiente, certo? Em parte. Com tantos shows que deixaram sua marca, como Enjambre, Bengala, Los Coronas e Adanowsky, para listar alguns, o Los Daniels não chamou tanto a atenção, pro bem ou pro mal. Mas isso não quer dizer que a música deles não agradou, pelo contrário. Só que, como diria o Vetrô, “é bom, mas algo o impede de ser o melhor”.

Andrea Balency Trio

Ouvir a música do Andrea Balency Trio foi um agradável choque. Embora só pude assistir uns poucos minutos do show, que acontecia na Tenda Intolerante, porque cortaram a transmissão para o show do Doctor Krápula, o trio mexicano conseguiu deixar uma ótima impressão. Uma música suave, sem a distorção das guitarras nem o peso da percussão, mas carregada na interpretação da cantora que dá nome ao grupo.

Doctor Krápula

Alguma coisa não estava certa no show do Doctor Krápula. Os colombianos se apresentaram no palco principal, sinal de que a banda é conhecida o bastante do público mexicano, mas não tiveram sucesso em causar reações na platéia. Se dedicaram a maior parte do show a transmitir um discurso politizado, que aparentemente encontrou pouco simpatizantes. Apenas quando o sol começou a se por e a apresentação chegar ao seu final, o Doctor Krápula conseguiu empolgar o público por uns instantes, a partir do momento em que tocaram “Pibe de mi Barrio”, uma homenagem a Carlos Valderrama, a maior cabeleira que o futebol já viu.

Puerquerama

Animação é o que não faltou na apresentação do Puerquerama na Tenda Intolerante. Esse troféu os mexicanos ganham com louvor. Mas fiquei com a impressão de que seus músicos se dedicaram tanto a levantar o público que esqueceram um pouco da execução das músicas. Quem já viu o Falcão, do Rappa, ao vivo, sabe do que estou falando.

Las Pastillas del Abuelo

Essa banda de Buenos Aires me deixou com uma pulga atrás da orelha. A parte que pude acompanhar do show mostrava um rock mais acelerado, que me deixou bastante empolgado. No entanto, ao procurar por vídeos/músicas no YouTube, só conseguia encontrar músicas mais lentas, introspectivas, que mal podia reconhecer ali a banda que havia ouvido antes. Qual a verdadeira face do Las Pastillas del Abuelo? Ainda não consegui descobrir, só sei que ambas me agradam.

Tributo a Gustavo Cerati

Quando a música voltou a tocar no palco principal, após o show do Doctor Krápula, foi para um tributo a Gustavo Cerati, conhecido por seus anos à frente do Soda Stereo (“De Música Ligera”, um dos principais sucessos da banda, foi regravado no Brasil por Paralamas do Sucesso e Capital Inicial). Cerati sofreu um AVC há 1 ano, quando estava prestes a se apresentar na Venezuela e desde então está em um longo processo de reabilitação. Diversos músicos que se apresentaram durante os 3 dias de Vive Latino subiram ao palco para lembrar os sucessos do Soda Stereo e da carreira solo do músico argentino.

http://youtu.be/PevGB1yryww
http://youtu.be/J2M-VXzYhO0

Adanowsky

Imagine Ringo Starr na época dos Beatles. Agora imagine Ringo Starr um pouco mais desgrenhado, fazendo gênero de galã canastrão da década de 70 e, pra completar, imitando os passos de dança de James Brown. Tudo isso enquanto canta ora em francês, ora em espanhol. Conseguiu? Se não, sinto muito, mas não existe outra maneira mais simples de descrever Adanowsky. Um verdadeiro entertainer, não só canta como também é ator, como demonstra enquanto está no palco. E circula por diversos gêneros musicais, como o funk, o jazz, a chanson e o rock. Os vídeos que a produção do Vive Latino colocou no YouTube não fazem justiça por completo ao que foi a apresentação de Adanowsky, mas dá pra ter uma ideia do sujeito.

People Project

Bandas que me deixaram instigado/curioso não faltaram nesses dias de Vive Latino. A última delas a causar esse efeito foi o People Project, especialmente quando ouvi músicas cantadas em português. Aí descobri que a banda é composta por gente de todas as Américas, incluindo Brasil, Trinidad y Tobago, Cuba, Canadá e México. Mas parece que o som deles pende mais pro lado brasileiro do que qualquer outro.

Babasónicos

A única atração do dia que eu conhecia, e ainda assim meu conhecimento sobre Babasónicos é bem limitado. Primeiro show no palco principal depois do cair da noite, a banda fez um show interessante, onde apresentou principalmente seus grandes sucessos, como “Y Qué” e “Microdancing”. A verdade é que o People Project me deixou curioso, e fiquei alternando entre um show e outro por um bom tempo.

La Dosis

Enquanto o Chemical Brothers encerrava as apresentações no palco principal do Vive Latino ’11, achei melhor ver o que estava acontecendo nos outros espaços do festival. E na Tenda Intolerante (terminei o festival sem saber o porque desse nome) vi mais uma banda voltar à ativa depois de mais de uma década de inatividade. La Dosis, banda de funk de Guadalajara que havia se separado em 2000, mostrou que ainda estava em forma, e fez um show de reunião bem mais interessante que o Caifanes, que tocou no palco principal no dia anterior.

E, com o fim da apresentação do La Dosis, também chegou ao fim a 12ª edição do Vive Latino e a cobertura invasora do evento. Ano que vem tem mais, e quem sabe os invasores não acompanham in loco?