Recentemente, Belo Horizonte assistiu a mais uma edição da Mostra Mundial de Cinema, o Indie07. E dentro da curadoria Música do Underground, o Invasões Bárbaras viu alguns filmes que valem muito uma menção.
Contando Cabeças: As irmãs sul-africanas do Hip Hop
(Counting Headz: South Afrika’s Sistaz In Hip Hop)
Documentário. Direção de Erin Offer & Vusi Magubane, África do Sul, 2006, 50 min.
O documentário sul-africano sobre as sistaz do Hip-Hop é um caso muito à parte. Lembrei-me de um indie antigo, quando assisti a Dogtown and Z-Boys, sobre o surgimento do skate vertical. O que o doc de Stacy Peralta supera em técnica, este Counting Headz supera em permanência e pertinência. É um trabalho apaixonado sobre o espaço que as mulheres tiveram que brigar pra conquistar no hip-hop.
Três são as moças que formam a linha de frente do filme, ainda que várias outras apareçam sempre pertinentemente. Aliás, talvez alguém diga que moça não é o termo exato quando duas delas já são mães, mas essa é a grande discussão: quem define o que uma mulher pode ou não pode; deve ou não deve ser?
A MC Chi, a DJ Sistamatic e a grafiteira Smirk são três das mais respeitadas artistas da cena Hip Hop na África, e têm muito a dizer sobre quebrar barreiras e vencer preconceitos. Inclusive, sobre as contradições dessa luta. Sistamatic se revoltou com uma revista, certa vez, porque os fotógrafos queriam explorar seu lado feminino, coisa que ela não estava interessada em mostrar, não da forma como a revista queria. Isso diz muito sobre o que os homens esperam que a mulher seja na cena artística: bunda e peitos.
Entretanto, outra discussão é levantada. A mulher precisa ser dura, forte, caso contrário não conquista o respeito dos homens. Chi se pergunta o porquê, sendo que isso praticamente limita a mulher a se tornar um “macho”, a descartar sua sensibilidade em vez de transformá-la em arte. E não é isso que ela quer, quer o direito de ser feminina sem ser desacreditada de seu trabalho.
Isso, em 50 minutos em que não se ouve uma única voz masculina. Counting Headz é um belo exercício cinematográfico de montagem, em que as falas conduzem uma história com sentido, delimitada em temas sem a necessidade de um narrador, exceto poucos caracteres apenas para reforçar algumas frases.
Por tudo isso, é um filme que permenece ressoando na cabeça, e que continuará sempre instigante por ser atual e tratar de um tema sempre universal. É menos um documentário sobre música, e mais uma história sobre como a mulher precisa lutar pra não ser só aquilo que os homens reservaram pra ela.
Leia também a primeira parte da nossa cobertura do Indie07.