O ótimo nome desse projeto faz jus ao quanto é interessante: bandas indies latinas fazendo versões para músicas de Ricky Martin.
ricky_martinsTudo começa com o aniversário de 5 anos do Puerto Rico Indie, site que é, nas suas próprias palavras, “um blog que busca explorar, promover e ressaltar as tendências atuais da criação artística independente, dentro e fora da ilha, concentrada em vídeo, música e tecnologia”. Durante nove semanas do verão 2014 do hemisfério norte, a cada terça-feira era publicada uma nova faixa. Sete outros versões foram adicionadas a estas, totalizando as 16 da coletânea Indie Martin.
Aperte o play e ouça algumas delas para entrar no clima da conversa com Alfredo Richner, editor do Puerto Rico Indie. Para quem curtir, o disco pode ser baixado gratuitamente.


Alfredo Richner – A ideia vinha sendo gestada há um ano, aproximadamente. Desde 2009 cobrimos a cena musical independente do país, e “Indie Martin” surgiu para comemorar o quinto aniversário do site e pagar tributo a uma das maiores estrelas da música de Porto Rico.
Buscamos unir de alguma forma esses dois mundos musicais que, na imaginação dos meios de comunicação tradicionais, da indústria, e até mesmo de muitos ouvintes, estão tão distantes um do outro. Foi um convite para artistas independentes se jogarem dentro do repertório pop de Ricky e para o público descobrir novos sons, estilos e vozes.
O “Indie Martin” é inspirado em projetos semelhantes de outros blogs e sites, como o compilado que o Stereogum fez para Björk e Radiohead, há alguns anos. E o lançamento dos singles durante o verão foi uma ideia emprestada das coletâneas do Adult Swim. De qualquer forma, é algo que sonhava fazer desde que eu comecei o blog, e no final senti que era o momento certo para tentar.
Invasões Bárbaras Há, em todo o mundo, muito preconceito entre os gêneros musicais. Os fãs expressaram algum descontentamento?
AR – Bem, quanto à reação foi tudo positivo, mas certamente há quem não vá gostar da ideia ou da execução. Em vez disso, houve um ou outro artista convidado que optou por não participar porque o conceito não foi atraente para eles, mas isso é mais do que compreensível também. O importante é que os outros aceitaram o desafio de frente, e se divertiram com suas versões de Ricky. Isso vemos claramente no resultado.
IB Como foram a recepção e o alcance, nacional e internacional?
AR – Durante o verão, as nove faixas que divulgamos acumularam cerca de 13.500 reproduções em nosso Soundcloud. O projeto foi divulgado por todo os EUA em veículos de destaque, tais como o NPR’s Alt. Latino e o Remezcla, recebendo também apoio de blogs do Brasil, Venezuela, República Dominicana e outros países.
IB – Felizes com o resultado?

AR – Mais do que feliz. Na verdade, muito grato por ter acontecido esse intercâmbio tão bonito – afinal, o objetivo de tudo isso é contribuir com a nossa cena musical. Agora meu objetivo é fazer esse projeto chegar para o próprio Ricky. E espero que ele goste do resultado.
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IB – Eu tenho as minhas versões favoritas. Você vai nos dizer as suas? 😉
AR – Muito difícil escolher. Quero saber as suas!
Eu digo que o primeiro single a chegar foi o da Las Acevedo. Eu me lembro que estava na cabine do programa de rádio “Frecuencias Alternas” quando abri o e-mail. Eu escutei, e imediatamente me veio um sorriso. Antes disso, não sabia o que ia acontecer com a compilação, não sabia o que esperar dos artistas. Mas Las Acevedo me deram essa garantia, desde o início do processo.
Da mesma forma, quando recebi o do Los Wálters, soube que seria a introdução perfeita para o projeto.  Acabou sendo tanto a primeira música que compartilhamos como a primeira faixa do álbum. E confesso que na primeira vez que ouvi Bella, do Stonetape, uma lágrima me escapou. La Copa de La Vida, do Ardnaxela, também parece impressionante.
Sem mentira: amo todas, e para cada um delas poderia contar uma história pessoal – e cada artista teria ainda mais a dizer, claro. Eu só tinha que ouvir, eles que fizeram o trabalho duro.
IB – Algo que você gostaria de dizer sobre o projeto, mas ninguém perguntou?
AR – Aproveite esta oportunidade para agradecer a todos os artistas independentes de Puerto Rico, e em particular para aqueles que participaram do projeto. Também estúdios de gravação, engenheiros de som, amigos, familiares, ouvintes, jornalistas, todos que apoiaram, seja com dinheiro, assistindo aos shows e comprando discos, e aqueles que nos dão a sua companhia e inspiração. Ezequiel e Reuben, da Discos Diáspora, que são meus irmãos na música, mas também na vida, e é bom ter seu apoio para essas invenções. E mais especialmente para a minha namorada durante o ensino médio, por me fazer ouvir Ricky Martin pela primeira vez, e, claro, para Ricky, por sua dedicação à música e Puerto Rico.
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Update: as favoritas deste repórter foram ao ar no programa número #283, e estão entre aquelas que Alfredo destacou. Achei que a Ardnaxela conseguiu dar um sentido diferente até à letra de La Copa de la Vida. Nessa edição, defendi também que a dupla dominicana Las Acevedo (únicas “estrangeiras” convidadas para o álbum) conseguiram ressignificar o alto astral e o humor do hit She Bangs.
E concordo com Alfredo: Dime que me Quieres, da banda Los Wálters, seria mesmo uma ótima música de trabalho para esse disco. Que, relembro, pode ser baixado gratuitamente.