Um cara sentou-se ao meu lado no meio do show. Pelo tempo de uma música, observou atento, apreciou o som, e depois me perguntou:
– Como se chama essa banda?
– Tanghetto.
– Sério?!? Que doido!
Houve um tempo em que a banda fundamental do electrotango argentino seria quase uma desconhecida do público mineiro. Não mais. O palco do Conexão Vivo 2010, montado na Praça da Liberdade domingo passado, reuniu curiosos, transeuntes eventuais, mas também reuniu muita, muita gente interessada em ver e ouvir a banda em ação.
Como me comentaram depois do show, o grupo “tem o guitarrista mais interessante que uma banda poderia ter”. Afirmação curiosa, mas que tem sentido. De fato, é o bandoneon que faz esta função. O instrumento é o principal responsável pelo traço musical único do tango, e faz, em muitas músicas do Tanghetto, esse papel de liderança que a guitarra faz numa banda de rock. Em várias outras, é o papel do vocalista que cabe ao instrumento.
A formação compreende bateria, sintetizadores, piano (acústico e elétrico), um violoncelo e o próprio bandoneon. E é este último que lidera o grupo, em um som ao mesmo tempo envolvente e vibrante, dependendo da canção executada.
No repertório, a presença mais forte foram dos extremos de sua discografia: o primeiro álbum, Emigrante (2003), e o último, El Miedo a la Libertad (2008). Clássicos como a homônima “Emigrante”, “Barrio Sur”, “Montevideo” fizeram par com uma das grandes habilidades do grupo: as versões. Caso de “Enjoy the Silence” e “Englishmen in New York”, além desta “Libertango”, abaixo, de Piazzolla.
A versão de Piazzolla fez algumas pessoas pedirem “Por una Cabeza”. Não foi desta vez que foram atendidas. O show foi bom, mas foi curto. O Tanghetto voltou ao palco para mais três músicas, entre elas a versão de “Sweet Dreams” na manga. Também foi pouco. Ficou o gosto de quero mais. Agora que eles já sabem o caminho, é esperar que BH receba novas visitas.