Ao começar a ouvir o disco El Miedo a la Libertad (2008), terceiro álbum de estúdio do grupo argentino Tanghetto, um tango embalado apenas pelo bandoneon e um piano é executado na música “El Testigo”. Até aí tudo normal para um grupo que contém o estilo musical no próprio nome.
Mas após trinta segundos de música, notas eletrônicas já começam a ressoar e vão ganhando espaço não só nesta faixa como também em todo o disco, mostrando claramente a proposta da banda de fundir dois estilos aparentemente divergentes: o clássico e dramático tango com a animada e sintética música eletrônica.
Entre uma faixa e outra é possível reconhecer três famosas canções regravadas numa versão eletrotango. A primeira a aparecer é “Sweet Dreams (Are Made of This)”, da dupla pop britânica Eurythmics. A tônica eletrônica presente na música original é mantida, conjugando então o pop, o eletrônico e o tango. O ritmo dançante e envolvente da música permanece, podendo ser a nova versão facilmente reproduzida em danceterias, assim como foi nas vozes de Annie Lennox e Dave Stewart, na década de 80.
A segunda adaptação é a de “Englishman in New York”, de Sting. Duas faixas após é possível ouvir a versão em eletrotango de um clássico do jazz marcado pela mistura de estilos. Trata-se da música “Cantaloupe Island”, de Herbie Hancock – umas das primeiras composições de jazz a carregar uma forte batida funk, produzida na década de 60. O jazz aparece também na canção “Media Persona”, esta do próprio Tanghetto.
Após ouvir tantas versões, confesso que acreditei por alguns instantes que uma das músicas inéditas (“El Arte de Amar”) era também uma versão “tangueada” de uma canção já conhecida. Isso porque o refrão reproduzia um ritmo muito semelhante ao de uma música que me remeteu aos meus 13 anos de idade. Perdoem-me os invasores bárbaros, mas sinto-me na obrigação de mostrar aqui a semelhança de tal canção com a Don’t Want You Back, dos Backstreet Boys. Confira abaixo e tire suas próprias conclusões.
Covers à parte, El Miedo a La Libertad é um disco que chama a atenção não só por dialogar com ritmos diferentes, mas também por ser um disco instrumental cujas canções estão muito próximas de terem um vocal, sendo ora o bandoneon, ora o violino ou cantor. O resultado dessa mistura toda é um tango menos melancólico, eu diria que um tango menos apaixonado e dramático e mais jovem e de bem com a vida.
E para ilustrar o que foi dito, deixamos abaixo um vídeo de um show do Tanghetto realizado no México. A música em questão é “El Testigo”, primeira do álbum El Miedo A La Libertad.