“Algo de Charly! Algo de Sui Generis!” é com certeza a melhor tradução de “Toca Raul!” para o espanhol argentino. A história do roqueiro portenho Charly García tem várias semelhanças com o nosso mito: compôs em sua própria língua quando o gênero ainda era muito anglo-saxônico, teve uma carreira longa passando pelos mais variados movimentos do rock, horrorizou a muitos com declarações e atitudes loucas, bebeu e se drogou demais, se meteu em muita confusão. As diferenças: Charly tem alguns toques mais eruditos e, principalmente, ele sobreviveu aos excessos, se recuperou dos anos 80 e continua produzindo.
Apresentamos aqui o disco de estréia do Sui Generis, primeiro grupo de Charly. Lançado em 1972, Vida dá início a uma inesquecível parceria de três discos de estúdio com o cantor Nito Mestre. O álbum traz clássicos como a reflexiva “Canción para mi muerte”, que, dizem, inspirou o tango “Canção para minha morte”, lançado em 1976 pelo nosso Raul Seixas; “Mariel y el Capitán”, uma canção-tragédia com direito a assassinato e suicídio, mas livre de uma mensagem moralizante; a declaração de amor “Quizás porque” e o casamento dos Beatles com flautas indígenas “Cuando comenzamos a nacer”.
Vida revela um nível raríssimo de simbiose entre letra, música e arranjo. Quem ouvir com atenção a faixa “Mariel y el Capitán” vai entender muito bem do que estou falando.
A participação de Carlos Jáuregui marca a estréia de textos escritos por colaboradores aqui no Invasões Bárbaras. E nosso novo colunista ainda vai escrever muito para nos ajudar a desvendar o passado da música latino-americana. Abaixo, ficamos com o vídeo de “Canción para mi muerte”, o hino de uma geração argentina que viveu a juventude nos anos de 1970, executada num show com clima de Woodstock.