Tudo começou em meados de 2004, na finada república estudantil interestadual Casa da Resenha. Eu tinha um modesto arquivo em músicas da Noruega, Alemanha e Bélgica, conforme já comentei neste post. Ouvindo uma música aqui e outra ali do meu repertório, Tiago Capixaba foi se convencendo de que aquele material daria um bom programa de rádio com programação musical diversificada e informação rica e inédita.
– Mas será que a gente dá conta de produzir um programa destes? – perguntei. Na época ainda estávamos entre o 3º e o 4º períodos do curso de Comunicação Social, e tínhamos pouca prática em produção radiofônica.
– É claro que sim, Ronaldo. Eu até arrumei um contato com um rapaz que trabalha aqui perto, ele coordena uma rádio comunitária.
Depois descobrimos que a tal rádio havia sido fechada. De qualquer forma, eu já tinha escrito o projeto, incluindo um roteiro para o programa-piloto de nome provisório Conexão Mundo. Na época pensamos em um programa temático por país com 1 hora de duração, ao vivo. Hoje eu não sei se agüentaria ficar 1 hora no ar falando da Noruega, por mais que tivesse interesse neste país.
O projeto ficou arquivado, esperando uma oportunidade. Ainda não havia para nós a Rádio UFMG Educativa, o caminho natural para experimentações de estudantes de comunicação com propostas e formatos inusitados para o rádio. Eu e Tiago Capixaba seguimos trajetórias diferentes no curso, habilitações diferentes inclusive. Fui trabalhar numa emissora de rádio que tem uma proposta de programação louvável, eficaz até para fazer frente ao Império das grandes gravadoras, mas incompatível com o nosso projeto, pois só toca música brasileira.
Desde o projeto meu e do Capixaba as coisas já estavam bem claras na nossa proposta: queríamos tocar música estrangeira em língua não-inglesa, como forma de contrabalançar a primazia do inglês no mercado radiofônico, mesmo em países que não têm o inglês como língua nacional. Não queríamos limitar o nosso repertório à chamada “world music” nem ao cenário musical alternativo de cada país. O primeiro ponto se explica porque “world music” é, grosseiramente falando, um rótulo comercial criado por gravadoras americanas para identificar e comercializar a música dos países periféricos no que esta possui de exótico, inclusive fazendo uso de fusões de ritmos locais aos estilos preponderantes como rock, blues e jazz, o que torna esta música mais familiar e palatável aos ouvidos dos cidadãos de primeiro mundo. O segundo ponto se explica porque queremos mostrar que não é só o “alternativo” que constitui a produção musical dos países não-anglófonos, ou seja, o fato de não termos acesso à produção musical de tantos países não é porque aquela produção é considerada alternativa, fora do circuito mainstream da indústria fonográfica, mas primordialmente pela barreira da distribuição mercadológica que prioriza a produção em inglês. Ambos os pontos dizem respeito a que tanto no Brasil, como nos países de língua inglesa, como nos demais países, existe produção alternativa, existem os gêneros ocidentais, existe world music, existem tantos outros gêneros locais por descobrir, e que nossa idéia com o Invasões Bárbaras é promover a diversidade e a amplitude musical nossas e de nossos ouvintes.
Saindo de uma discussão que ainda tem muito o que render e enriquecer a todos, voltamos naquele momento da história em que eu e Capixaba nos deparamos com Vetrô, Costoli e a Rádio UFMG Educativa, não necessariamente nesta mesma ordem. Junta-se a fome com a vontade de formar, e aqui está o nosso projeto muito bem rebatizado de Invasões Bárbaras, com o sobrenome de “Músicas para derrubar o Império”. Capixaba continua jurando que não viu aquele filme, e eu continuo lembrando ao Vetrô que “músicas” com o sentido de canções, composições individuais é um plural que só tem uso corrente na língua portuguesa.
Costoli
»Bastante pitoresca a decisão de reduzir a fonte pra colocar um texto grande no ar, mas meus cumprimentos ao Baiano pela foto que ilustra o post. Compensou uma falta de noção com outra falta de noção. Brilhante…
Hidson Guimarães
»A fonte pequena foi um mero acidente…Colei o texto direto do programa de e-mail e ficou esta fonte. A ilustração também está totalmente dentro do contexto.
Tomara que um comentário babaca aqui e ali não desviem o leitor da mensagem do texto.